Treinamento de uma semana e ao custo de R$ 1,2 mil é resposta ao aumento de demanda de fiéis por ritual.
BBC/G1
Vaticano acaba de abrir as portas para seu curso anual de exorcismo em meio a uma demanda crescente de comunidades católicas ao redor do mundo.
Cerca de 250 padres, vindos de 50 países, chegaram a Roma para, entre outras coisas, aprender a identificar uma “possessão demoníaca”, ouvir testemunhos de colegas e conhecer os rituais para a “expulsão de demônios”.
A prática é polêmica, em parte pela forma como é apresentado na cultura popular – particularmente, em filmes de terror. Mas também houve relatos de abusos cometidos em sessões de exorcismo em várias seitas religiosas diferentes.
O curso do Vaticano, com cerca de uma semana de duração, é denominado “Exorcismo e a Oração da Libertação” e começou a ser ministrado em 2005. Desde então, o número de alunos dobrou. O custo é de 300 euros (cerca de R$ 1,2 mil) e o currículo inclui abordagens da teologia, psicologia e antropologia.
Por que a demanda está aumentando?
Padres católicos de diversos países disseram à imprensa terem notado um aumento no número de fiéis relatando sinais de “possessão demoníaca”.
No ano passado, o Papa Francisco disse a clérigos que eles “não deveriam hesitar” em encaminhar casos para exorcistas ao notarem “distúrbios espirituais genuínos”.
Estima-se que meio milhão de pessoas busquem sessões de exorcismo a cada ano na Itália. Um relatório do centro de pesquisas cristão Theos afirmou, em 2017, que a prática está crescendo – em parte, pela expansão de igrejas pentecostais.
Algumas dioceses desenvolveram seus próprios cursos para atender à crescente demanda, como na Sicília (Itália), e na cidade americana de Chicago.
O padre americano Gary Thomas, que pratica exorcismos há 12 anos, diz que à medida que a sociedade passou a confiar mais em ciências sociais, caiu o número de igrejas que treinam exorcistas. Para ele, o declínio do cristianismo também abriu espaço a práticas supersticiosas.
Já Benigno Palilla, um padre italiano, disse ao portal Vatican News que a popularização de tarô e feitiçaria teria renovado a demanda para exorcismos.
No entanto, pouquíssimos casos realmente precisam do chamado exorcismo magno. Dos 180 casos que testemunhou, Thomas diz que apenas uma dezena precisou dessa modalidade, que necessita da aprovação de um bispo e envolve orações específicas.
Quando é que um exorcismo é autorizado?
Em 1999, a Igreja Católica fez a primeira grande atualização nas regras sobre exorcismo desde 1614, distinguindo a possessão demoníaca de doenças físicas e psicológicas.
Como consequência, o padre Thomas trabalha com um grupo de médicos, psicólogos e psiquiatras – todos católicos praticantes – para investigar a causa do sofrimento de uma pessoa antes de diagnosticar a possessão demoníaca.
Ele então tenta uma série de orações de esconjuro. Um exorcismo magno só ocorre como último recurso, diz o padre.
O que ocorre no exorcismo?
Em geral, o padre, pratica o ritual usando uma túnica branca de renda chamada sobrepeliz com uma estola roxa. A pessoa possuída pode ser atada, e água benta deve ser usada. O padre faz o sinal da cruz várias vezes em frente à pessoa ao longo do procedimento.
O padre convoca santos, reza e lê trechos da Bíblia nos quais Jesus expulsa demônios de pessoas.
Em nome de Jesus, ele pede ao demônio que se renda a Deus e vá embora, tantas vezes quanto necessário. Assim que o padre se convence de que o exorcismo funcionou, ele reza a Deus para que impeça o espírito maligno de importunar a pessoa afetada novamente, e que, em vez disso, a “bondade e paz do nosso Senhor Jesus Cristo” se apossem dela.
Quais são as críticas?
Há muitas críticas ao exorcismo e preocupações de que ele esteja sendo usado por sacerdotes religiosos para abusar de crianças e outras pessoas vulneráveis.
Houve casos de mortes em rituais associados ao exorcismo.
De maneira geral, há o risco de pessoas com doenças como epilepsia ou esquizofrenia serem erroneamente consideradas “possuídas” e, por isso, deixarem de receber tratamento médico adequado.
Em 2012, o governo britânico divulgou um plano nacional para prevenir o abuso de crianças em rituais religiosos.
No início de abril, um pastor evangélico em Santa Catarina foi preso, acusado de pedir que uma menina de 13 anos se fotografasse nua para que ele quebrasse uma maldição.
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